A
prosperidade é
uma verdade bíblica que não se limita a visão reducionista do sucesso
financeiro. Observaremos através de alguns textos, a maneira como no
Antigo Testamento o tema prosperidade foi exposto.
Ele,
porém, lhes disse: Não me detenhais, pois o SENHOR tem prosperado o meu
caminho; deixai-me partir, para que eu volte a meu senhor. (Gn 24.56, ARC)
Ele, porém, lhes disse: Não me detenhais, pois o SENHOR me tem levado a bom termo na jornada; permiti que eu volte ao meu senhor. (Gn 24.56, ARA)
O termo hebraico traduzido por “prosperado” ou “levado a bom termo” é hotselih, que transmite
a ideia de ser bem sucedido numa tarefa ou missão. As palavras são do
servo de Abraão, ao cumprir a missão de encontrar e tomar uma esposa
para o filho de seu senhor. Diante de todos os acontecimentos, o servo
de Abraão creditou a sua prosperidade ao Senhor, tributando a Ele toda
honra glória e louvor.
Vendo, pois, o seu senhor que o SENHOR estava com ele e que tudo o que ele fazia o SENHOR prosperava em sua mão, (Gn 39.3, ARC)
Vendo Potifar que o SENHOR era com ele e que tudo o que ele fazia o SENHOR prosperava em suas mãos, (Gn 39.3, ARA)
O termo hebraico traduzido por “prosperava” é matselih,
e transmite aqui a ideia de ser bem sucedido na administração de
negócios e empreendimentos. José, de quem o texto fala, é descrito como
aquele através de quem Deus abençoava a casa e as posses de Potifar.
Havia nisso tudo um soberano propósito em andamento (Gn 37.6-11), que
conduziria José ao cargo de governador do Egito (Gn 41.38-44).
E
apalparás ao meio-dia, como o cego apalpa na escuridade, e não
prosperarás nos teus caminhos; porém somente serás oprimido e roubado
todos os dias; e não haverá quem te salve. (Dt 28.29, ARC)
Apalparás
ao meio-dia, como o cego apalpa nas trevas, e não prosperarás nos teus
caminhos; porém somente serás oprimido e roubado todos os teus dias; e
ninguém haverá que te salve. (Dt 28.29, ARA)
O hebraico welo’ thatselih (não
prosperarás), é aqui contrário às bênçãos descritas em Deuteronômio
28.1-14, que estavam condicionadas ao “ouvir a voz do Senhor” e “guardar
todos os seus mandamentos” (Dt 28.1), o que implicava em não se desviar
de todas as palavras ordenadas, nem para a direita, nem para a esquerda
(28.28-14). As bênçãos (hb. haberakoth),
falam do favor de Deus para com os justos, e no presente contexto
envolvia benefícios e abundância sobre a produção agrícola e pecuária,
vitória sobre os inimigos, posição de proeminência, etc. A prosperidade
de Israel seria o sinal visível da obediência deste povo ao seu Senhor.
No Antigo Testamento é comum a realidade visível (concreta) apontar para a realidade invisível (abstrata).
Não
se aparte da tua boca o livro desta Lei; antes, medita nele dia e
noite, para que tenhas cuidado de fazer conforme tudo quanto nele está
escrito; porque, então, farás prosperar o teu caminho e, então,
prudentemente te conduzirás. (Js 1.8, ARC)
Não
cesses de falar deste Livro da Lei; antes, medita nele dia e noite,
para que tenhas cuidado de fazer segundo tudo quanto nele está escrito;
então, farás prosperar o teu caminho e serás bem-sucedido. (Js 1.8, ARA)
O “fazer prosperar” (hb. tatselih)
o caminho, implicava em Josué transmitir, refletir e cumprir as
palavras do livro da Lei, o que não significava a ausência de
adversidades e lutas (Js 1.9, 14, 15ss ), mas que garantiria uma cautela, habilidade, prudência e entendimento (hb. tasekil), necessários para superar os obstáculos e alcançar o sucesso.
É
importante perceber, que ao tratar de prosperidade, o Antigo Testamento
não apresenta a ideia de mera barganha, mas de obediência incondicional
a Deus, mediante a sua vontade manifesta (oral ou escrita). Numa
barganha, as partes se nivelam na troca de favores. Com Deus, não há
possibilidade alguma de nivelamento, por ser Ele quem é (Soberano e
Santo), e por sermos nós quem somos (servos e pecadores).
Bem-aventurado
o varão que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no
caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores. Antes,
tem o seu prazer na lei do SENHOR, e na sua lei medita de dia e de
noite. Pois será como a árvore plantada junto a ribeiros de águas, a
qual dá o seu fruto na estação própria, e cujas folhas não caem, e tudo
quanto fizer prosperará. (Sl 1.1-3, ARC)
Bem-aventurado
o homem que não anda no conselho dos ímpios, não se detém no caminho
dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores. Antes, o seu
prazer está na lei do SENHOR, e na sua lei medita de dia e de noite. Ele
é como árvore plantada junto a corrente de águas, que, no devido tempo,
dá o seu fruto, e cuja folhagem não murcha; e tudo quanto ele faz será
bem sucedido. (Sl 1.1-3, ARA)
Mas uma vez temos na tradução “prosperará” a raiz hebraica tsalah. Utilizando-se da metáfora da árvore plantada junto a corrente de águas, o salmista condiciona a prosperidade ao prazer (hb. hephetso)
na lei do Senhor, que protege e afasta o indivíduo do conselho dos
ímpios, do caminho dos pecadores e da roda dos escarnecedores, na medida
em que este prazer à lei é seguido de meditação (hb. hagah, considerar,) na própria lei.
Pois eu tinha inveja dos soberbos, ao ver a prosperidade dos ímpios. (Sl 73.3, ARC)
Pois eu invejava os arrogantes, ao ver a prosperidade dos perversos. (Sl 73.3, ARA)
Neste salmo, a possibilidade de prosperidade (o termo hebraico aqui é shelom, de shalom, ganhos financeiros e materiais, saúde, bem-estar, etc.,) por parte dos ímpios (hb. rasha`,
perverso, injusto, malfeitor, transgressor) é exposta (v. 4-12). Fica
agora evidente, que nem toda prosperidade é resultado da bênção
proveniente da obediência a Deus. Por desconhecer até então esta
possibilidade, o salmista Asafe ficou confuso ao ponto de quase se
desviar e escorregar (v. 2).
Na
condição de justo (v. 13), Asafe sofria constantes aflições (v. 14).
Quando tentava entender, segundo a lógica humana, a sua própria
condição, ainda perturbado, entrou no santuário de Deus e percebeu o fim
(hb. ‘aharith, futuro,
posteridade) deles (v. 17). Asafe pôde compreender que a aparência nem
sempre manifesta a essência das coisas e das pessoas, que o ter não
revela necessariamente o bom caráter do ser e que o bem-estar nesta vida
não garante uma eternidade de gozo, paz e alegria na presença de Deus
(v. 20).
Mesmo desfalecido em seu próprio ânimo, o salmista não abre mão da presença de Deus, do seu conselho, direção e força (v.
23-26), e diante da realidade da glória futura (v.24) encontra
motivação para aproximar-se, confiar e anunciar as obras do Senhor (v.
28).
Com
Asafe, aprendemos que é possível ter abundância de saúde, bens e
riquezas materiais, sem ter a bênção decorrente da obediência a Deus.
Aprendemos também, que é possível ter a bênção de Deus (presença,
conforto, força, esperança e graça), decorrente da obediência a Ele, sem
ter abundância de saúde, bens e riquezas materiais nesta vida.
É
aqui que os fundamentos teóricos da Teologia da Prosperidade (ou da
Vitória Financeira) começam a “ruir”, pois ela não consegue associar a
prosperidade bíblica com a ausência de bens terrenos, nem com qualquer
outro tipo de aflição temporal (inclusive problemas de saúde)
experienciada pelo justo (o crente sincero, obediente, temente e
confiante em Deus).
Que
a prosperidade bíblica seja buscada e ensinada, ao mesmo tempo em que a
Teologia da Prosperidade (ou da Vitória Financeira) seja combatida,
abominada e extirpada de nosso meio.
Um comentário:
Paz do Senhor, pastor Altair!
Excelente subsídio!
www.joaopaulomsouza.blogspot.com.br
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