R. C.
Sproul nasceu em 1939, no estado da Pensilvânia. É ministro presbiteriano,
pastor da Igreja St. Andrews Chapel, na Florida; fundador e presidente do
ministério Ligonier, professor e palestrante em seminários e conferências;
autor de dezenas de livros, vários deles publicados em português; possui um
programa de rádio chamado: Renove sua Mente, o qual é transmitido para uma
grande audiência nos EUA e para mais de 60 outros países; Suas graduações
incluem passagem pelas seguintes universidades e centros de estudos teológicos:
Westminster College, Pennsylvania, Pittsburgh Theological Seminary,
Universidade livre de Amsterdã e Whitefield Theological Seminary. É casado com
Vesta Ann e o casal tem dois filhos, já adultos.
Certa vez visitei uma mulher que estava morrendo de
câncer uterino. Ela estava em grande angústia, mas não apenas por seu incômodo
físico. Ela me explicou que ela havia feito um aborto quando moça e estava
convencida de que sua doença era uma direta consequência daquilo. Resumindo,
ela acredita que o câncer era o julgamento de Deus sobre ela.
A resposta pastoral comum a tal questão agonizante
de alguém em seu leito de morte é dizer que a aflição não é um julgamento de
Deus pelo pecado. Mas eu tive de ser honesto, então eu disse a ela que não
sabia. Talvez fosse julgamento de Deus, mas talvez não fosse. Eu não posso
sondar o conselho secreto de Deus ou ler a mão invisível de sua providência,
então eu não sabia o motivo de seu sofrimento. Eu sabia, contudo, que qualquer
que fosse a razão para aquilo, havia uma resposta para a culpa dela. Nós
falamos sobre a misericórdia de Cristo e da cruz e ela morreu na fé.
A pergunta que aquela mulher levantou é feita todos
os dias por pessoas que estão sofrendo aflições. Ela é abordada em uma das
passagens mais difíceis do Novo Testamento. Em João 9, nós lemos:
"Caminhando Jesus, viu um homem cego de nascença. E os seus discípulos
perguntaram: 'Mestre, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?'
Respondeu Jesus: 'Nem ele pecou, nem seus pais; mas foi para que se manifestem
nele as obras de Deus'" (vv. 1-3).
Por que os discípulos de Jesus supuseram que a
causa raiz da cegueira daquele homem era seu pecado ou o pecado de seus pais?
Eles certamente tinham alguma base para essa hipótese, pois as Escrituras, dos
registros da queda em diante, deixam claro que a razão pela qual o sofrimento,
a doença e a morte existem neste mundo é o pecado. Os discípulos estavam
corretos de que de alguma maneira o pecado estava envolvido na aflição daquele
homem. Também, há exemplos na Bíblia de Deus causando aflição por causa de
pecados específicos. No Israel antigo, Deus afligiu a irmã de Moisés, Miriã,
com lepra porque ela questionou o papel de Moisés como porta-voz de Deus
(Números 12:1-10). Igualmente, Deus tomou a vida do filho nascido a Bate-Seba
como resultado do pecado de Davi (2 Samuel 12:14-18). A criança foi punida, não
por causa de algo que a criança fez, mas como resultado direto do julgamento de
Deus sobre Davi.
Contudo, os discípulos cometeram o erro de particularizar
o relacionamento geral entre o pecado e o sofrimento. Eles assumiram que havia
uma correspondência direta entre o pecado do homem cego e sua aflição. Eles não
leram o livro de Jó, que trata de um homem que era inocente, e ainda assim foi
severamente afligido por Deus? Os discípulos erraram em reduzir as opções a
duas quando havia outra alternativa. Eles fizeram sua pergunta a Jesus de uma
maneira "ou isso, ou aquilo", cometendo a falácia lógica do falso
dilema, assumindo que o pecado do homem ou o pecado dos pais do homem eram a
causa de sua cegueira.
Os discípulos também parecem ter assumido que
qualquer um que tem uma aflição sofre em direta proporção ao pecado que foi
cometido. Novamente, o livro de Jó risca essa conclusão, pois o grau de sofrimento
que Jó foi chamado a suportar era astronômico comparado com o sofrimento e
aflições de outros muito mais culpados do que ele era.
Nunca devemos pular para a conclusão de que uma
incidência específica de sofrimento é uma resposta direta ou está em direta
correspondência ao pecado específico de uma pessoa. A história do homem que
nasceu cego deixa isso claro.
Nosso Senhor respondeu a pergunta dos discípulos
corrigindo sua falsa suposição de que a cegueira do homem era uma direta
consequência do pecado dele mesmo ou de seus pais. Ele lhes assegurou que o
homem nasceu cego não porque Deus estava punindo ao homem ou a seus pais. Havia
outra razão. E por haver outra razão neste caso, pode sempre haver outra razão
para as aflições que Deus nos chama a suportar.
Jesus respondeu a seus discípulos dizendo:
"Nem ele pecou, nem seus pais; mas foi para que se manifestem nele as
obras de Deus" (v. 3). O que ele quis dizer? De uma maneira mais simples,
Jesus disse que o homem nasceu cego para que Jesus o pudesse curar no tempo
designado, como testemunho do poder e da divindade de Jesus. Nosso Senhor
demonstrou sua identidade como o Salvador e o Filho de Deus nessa cura.
Quando sofremos, devemos confiar que Deus sabe o
que está fazendo, e que ele trabalha em e através da dor e das aflições de seu
povo para sua própria glória e a santificação de seu povo. É difícil suportar
sofrimento prolongado, mas a dificuldade é grandemente aliviada quando ouvimos
nosso Senhor explicando o mistério no caso do homem nascido cego, que Deus
chamou para muitos anos de dor para a glória de Jesus.
Fonte: editorafiel.com.br/artigos
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