Todo líder, de qualquer seguimento, um dia terá que
deixar o cargo. Isso é um processo natural. Acontece que muitos pensam que são
insubstituíveis, ou não querem "largar" a liderança para não perder
status, vantagens, benefícios, privilégios etc. É aí que surgem os problemas.
Tenho afirmado que toda lição bíblica precisa ser aplicada e contextualizada. A aprendizagem na escola dominical precisar transformar a nossa vida, a nossa maneira de ser e fazer as coisas. Dessa maneira, vamos partir de alguns problemas concretos em nossos dias, para depois aprendermos sobre sucessão com Elias e Eliseu.
Tenho afirmado que toda lição bíblica precisa ser aplicada e contextualizada. A aprendizagem na escola dominical precisar transformar a nossa vida, a nossa maneira de ser e fazer as coisas. Dessa maneira, vamos partir de alguns problemas concretos em nossos dias, para depois aprendermos sobre sucessão com Elias e Eliseu.
Observe o que na prática acontece atualmente em
muitos lugares, quando a questão é a manutenção de cargos e do poder temporal:
- Líderes, espontaneamente ou pressionados pela família, mesmo com a idade muito avançada e sem nenhuma condição de saúde física e mental se prolongam no cargo, causando dessa forma uma série de transtornos para o ministério e para a igreja;
- Líderes se utilizam de estratégias mundanas, utilizando-se de artifícios para vencer eleições em igrejas e convenções, do tipo: compra de votos, oferta de cargos e benefícios, manipulação de urnas, traições, calúnias, processos na justiça comum, ordenação de obreiros sem vocação ministerial (eleitores) etc.;
- Líderes, usam e abusam do nepotismo, colocando parentes, familiares e bajuladores em cargos estratégicos, garantindo assim a manutenção do poder por meio de retaliações, ameaças e outras ações vergonhosas;
- Líderes, no desejo de manter o seu "império", tentam a todo custo perpetuar a "dinastia", articulando a passagem de sua liderança para um dos filhos. Dessa forma, as "coisas" ficam em casa. No caso de filhos devidamente vocacionados por Deus para a sucessão ministerial, não vejo problema algum;
- Líderes vendem a própria igreja "instituição", com o propósito de manter uma aposentadoria gorda. Um "acordão" é feito da seguinte forma: eu te vendo a igreja com "papel passado e tudo mais" e você me sustenta com um salário vitalício digno (gordo);
- Líderes alteram de maneira escandalosa o Estatuto da igreja ou da convenção, buscando com isso a perpetuação do poder e dos privilégios;
- Líderes promovem grandes "rachas" e divisões, quando percebem que não terão condições de se perpetuar no "trono" (ou de tomá-lo). Há pouco tempo um certo líder declarou: “Aprendi que poder não se conquista, se toma”.;
- Líderes subalternos planejam golpes na tentativa de tomar e conquistar o poder, mobilizando "grupinhos" contra a liderança estabelecida.
Alguns líderes evangélicos na atualidade tratam igrejas e convenções como propriedade particular, empresa ou negócio de família. Esquecem que a igreja tem um dono e o seu nome é JESUS.
As questões acima são vivenciadas também em outros níveis de lideranças, como no caso de órgãos e departamentos da igreja.
Não são poucos os casos de regentes de
órgãos musicais e líderes de departamentos, que causam problemas à liderança na
hora de sair. Como exemplo, podemos citar:
- Mobilizam os componentes dos órgãos e departamentos contra a liderança da igreja, afirmando que está sendo injustiçado e que Jesus não "revelou" a sua saída;
- Não se preocupam em
formar sucessores;
- Tenta em alguns
casos, também, manter o negócio sob a direção da família;
- Doam instrumentos e
outros objetos, ficam com isso chantageando o pastor, e na hora de sair levam
de volta consigo os instrumentos “doados”;
- Geralmente usam a
seguinte expressão: “Este é o ‘meu’ coral, ‘meu’ conjunto, ‘minha’ escola, ‘minha’
classe, ‘minha’ mocidade, ‘meus’ adolescentes, ‘minhas’ crianças"...
Assim como nos dias de
Elias, a sucessão ministerial ou de líderes continua acontecendo de forma
conturbada.
APRENDENDO SOBRE
SUCESSÃO DE LÍDERES COM ELIAS E ELISEU
Com a sucessão de Elias podemos extrair princípios que podem ser
observados nos processos sucessórios que envolvem as lideranças. Observemos
alguns destes princípios:
Também
a Jeú, filho de Ninsi, ungirás rei de Israel e também Eliseu, filho de Safate,
de Abel-Meolá, ungirás profeta em teu lugar. (1 Rs 19.16)
Uma das tarefas mais
difíceis para um líder é administrar a própria sucessão. Elias nos ensina a
necessidade de obedecermos a vontade e a direção de Deus. O Senhor continua a
falar em nossos dias, o problema é que nem todos desejam lhe ouvir, pois a voz
de Deus pode frustra alguns ideais pessoais. Quando é o Senhor que orienta, não
é necessário questionar a capacidade do sucessor. Elias, com bom senso,
simplesmente obedeceu.
Partiu,
pois, Elias dali e achou a Eliseu, filho de Safate, que andava lavrando com
doze juntas de bois adiante dele; e ele estava com a duodécima. Elias passou
por ele e lançou a sua capa sobre ele.
Então, deixou ele os bois, e correu após Elias, e disse: Deixa-me beijar
a meu pai e a minha mãe e, então, te seguirei. E ele lhe disse: Vai e volta;
porque que te tenho eu feito? Voltou, pois, de atrás dele, e tomou uma junta de
bois, e os matou, e, com os aparelhos dos bois, cozeu as carnes, e as deu ao
povo, e comeram. Então, se levantou, e seguiu a Elias, e o servia. (1
Rs 19.19-21)
Ao comentar o ato de Elias
lançar a sua capa (manto) sobre Eliseu, Champlin (O Antigo Testamento
Interpretado. 2. ed. Hagnos/CPAD, 2001, p. 1445, v. 2) afirma:
O
manto de Elias era feito de peles de animais recobertas de pêlos. Usualmente era
empregado o couro de cabra, com os pêlos pelo lado de fora. Esse manto era
parte distintiva das vestes de um profeta e o identificava como um vidente. Ver
II Rs 1.8; Mt 3.4; Zc 13.4. Acreditava-se que o poder espiritual era
transferido ao profeta por meio do seu manto (ver II Rs 2.13, 14).
Naturalmente, pensamos que isso era um ato meramente simbólico, mas nos tempos
antigos as mantas dos profetas eram consideradas seriamente objetos de poder. O
ato com a manta também era usado para adotar uma criança, pelo que,
simbolicamente, Eliseu se tornou filho de Elias, que seguiria para a grandeza
espiritual.
Wong (Liderando a Transição.
São Paulo: Z3 Editora, 2012, p. 111), sobre o mesmo episódio, comenta:
Elias
ungiu Eliseu ao jogar seu manto sobre ele, um ato simbólico que significava a
transferência de autoridade de um para o outro. Mas o ato significava mais –
como expressado na palavra alemã mantelkind, literalmente a criança do manto ou
um filho espiritual. Elias tomou seu protegido sob sua tutela, e se tornou um
pai para ele. Ao final de sua vida,Eliseu pediu por “uma porção dobrada” do
espírito de Elias, remanescente do direito de herança pertencente ao filhos
mais velho (Dt 21.17; 2 Rs 2.9-10)
A sucessão não foi imediata.
Houve um tempo entre o “lançar do manto” (1 Rs 19.19) e o “cair do manto” (2 Rs
2.14). Com Elias e Eliseu aprendemos que no processo sucessório não deve haver
pressa. Tudo tem que ser no tempo de Deus. Wong (Ibid. p. 113) escreve:
Líderes
precisam ser nutridos e precisam de espaço para crescer. Líderes mais velhos
precisam dominar menos e delegar mais. Mais importante, os líderes precisam dar
tempo àqueles sob seus cuidados. Elias e Eliseu pertenciam a uma era abençoada,
onde o aprendizado acontecia com o professor e o estudante vivendo e
trabalhando juntos. Sem a intervenção da alta tecnologia, eles estabeleciam um
relacionamento de alto contato.
Se desejarmos preparar a
nova geração para os desafios do ministério, precisamos investir nela agora. O
aprendizado no ministério se dá através do ouvir, ver e fazer. É preciso capacitar e treinar, é preciso mentorear a nova geração.
Eliseu se portou com a devida
prudência, e adotou a postura de um verdadeiro líder, a de servo (1 Rs 19.21; 2
Rs 3.11; Mt 20.25-28; Jo 13.3-17). Diferente de alguns pretensos sucessores na
atualidade, ele não precisou bajular, nem trair a confiança de seu líder. Assim
comportam-se os verdadeiros escolhidos de Deus.
Para que um sucessor realize
o seu trabalho com eficácia, é preciso que o antecessor saia de “cena”. Elias
saiu de cena. Muitos líderes depois que são substituídos continuam interferindo
no trabalho do seu sucessor, alimentando a “devoção” do povo. Um líder ao ser
sucedido deve ser honrado, mas a direção não está mais com ele. O novo líder
precisa andar com as próprias pernas, e na direção do Espírito. Mesmo com a
ausência de Elias, Eliseu teve que lidar com o saudosismo de um grupo devoto e
leal a Elias (eles sempre existirão):
E
disseram-lhe: Eis que, com teus servos, há cinqüenta homens valentes; ora,
deixa-os ir para buscar teu senhor; pode ser que o elevasse o Espírito do
SENHOR e o lançasse em algum dos montes ou em algum dos vales. Porém ele disse:
Não os envieis. Mas eles apertaram com ele, até se enfastiar; e disse-lhes:
Enviai. E enviaram cinqüenta homens, que o buscaram três dias, porém não o
acharam. (2 Rs 2.16-17)
Eliseu, longe de ficar
enciumado ou preocupado, soube lidar com prudência e sabedoria diante da
situação. Ele tinha convicção de sua chamada e da posição que o Senhor lhe
colocara.
Outra coisa que compromete
uma sucessão é quando o líder atual passa do tempo de sair. Elias saiu no tempo
certo, não resistiu diante da vontade de Deus (2 Rs 2.11). Não tinha ao que se
apegar (cargos, bens, dinheiro, status, etc.). Imagino que se no dias atuais um
carro de fogo, com cavalos de fogo, fosse enviado pelo Senhor para buscar
alguns líderes, eles pediriam para não ir, ficariam somente para continuar
desfrutando das honras humanas, do luxo e dos privilégios que conquistaram.
Eliseu não apenas herdou a
primazia do poder do Espírito que operava em Elias, mas foi herdeiro também do
seu caráter, de sua integridade e de sua fidelidade ao Senhor.
O que estamos deixando para
as novas gerações de líderes, para os nossos sucessores? O que estamos fazendo
por eles? Ainda somos referenciais como Elias foi para Eliseu? Nossa capa é ainda
desejada pelos mais jovens?
Qual o nosso legado?
Paulista-PE, 09/01/2013
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