A infidelidade conjugal (adultério), do
hebraico na’aph é uma das práticas condenadas nos Dez
Mandamentos: “Não adulterarás” (Êx 20.14).
No livro de Provérbios encontramos
sérias advertências em relação à mulher adúltera. Seus lábios são doces como o
mel e as suas palavras suaves como o azeite, mas o envolvimento com ela termina
em amargor e morte (Pv 5.1-5). A insensatez norteia os seus passos (Pv 5.6).
Aproximar-se dela pode comprometer a honra e trazer grande sofrimento, e isso
devido ao abandono do ensino e da prudência (Pv 5.7-14). O envolvimento com uma
mulher adúltera é comparado com a cegueira de entendimento e sentimentos. A
paixão cega o indivíduo (Pv 5.20).
Um caso clássico de infidelidade
conjugal no Antigo Testamento é o de Davi e Bate-Seba:
E enviou Davi e perguntou por aquela
mulher; e disseram: Porventura, não é esta Bate-Seba, filha de Eliã e mulher de
Urias, o heteu? Então, enviou Davi mensageiros e a mandou trazer; e, entrando
ela a ele, se deitou com ela (e já ela se tinha purificado da sua imundície);
então, voltou ela para sua casa. (2 Sm 11.3-4)
As consequências deste episódio foram
trágicas, pois culminou na trama da morte do marido de Bate-Seba, Uriaz (2 Sm
11.14-17). Davi pagou um alto preço por isso (2 Sm 12.14-19). Apesar do grande
erro cometido, ao assumir seu pecado e demonstrar sincero arrependimento, a
graça e a misericórdia de Deus se manifestaram em forma de perdão absoluto (2
Sm 12.13), isentando Davi das consequências legais de sua inflação:
Também o homem que adulterar com a
mulher de outro, havendo adulterado com a mulher do seu próximo, certamente
morrerá o adúltero e a adúltera. (Lv 20.10)
Em soberania e graça Deus concedeu o
seu perdão a Davi. Quem pode contestá-lo? Quem é o legalista que confrontará o
Senhor por ministrar em graça o seu perdão?
No Novo Testamento o tema infidelidade
conjugal (adultério) é tratado por Jesus:
Ouvistes que foi dito aos antigos: Não
cometerás adultério. Eu porém, vos digo que qualquer que atentar numa mulher
para a cobiçar já em seu coração cometeu adultério com ela. (Mt 5.27-28)
O termo grego para
"adultério" é moicheúseis, e para
"cobiçar" epithumesai, que no contexto implica em ansiar,
desejar possuir. Jesus foi para além da letra da Lei e dos comportamentos
aparentes, enfatizando o “espírito” da Lei e as intenções do coração (homem
interior). Conforme A. T. Robertson:
Jesus situa o adultério nos olhos e no
coração antes do ato externo. Wunsche (Beitrage) cita duas declarações
rabínicas pertinentes ao tema traduzidas por Bruce: “Os olhos e o coração são
dois corretores do pecado”. (Comentário Mateus & Marcos: à luz do Novo
Testamento Grego. Rio de Janeiro: CPAD, 2012, p. 73)
Dessa forma, mais uma vez os legalistas
sofreram um duro golpe, pois com certeza, muitos dos que condenavam e apontavam
os pecados alheios “concretizados” se viram incluídos no rol de adúlteros.
Outro episódio bastante conhecido no
Novo Testamento é o da mulher pega em fragrante adultério:
E os escribas e fariseus trouxeram-lhe
uma mulher apanhada em adultério. E, pondo-a no meio, disseram-lhe: Mestre,
esta mulher foi apanhada, no próprio ato, adulterando, e, na lei, nos mandou
Moisés que as tais sejam apedrejadas. Tu, pois, que dizes? Isso diziam eles,
tentando-o, para que tivessem de que o acusar. Mas Jesus, inclinando-se,
escrevia com o dedo na terra. E, como insistissem, perguntando-lhe,
endireitou-se e disse-lhes: Aquele que dentre vós está sem pecado seja o
primeiro que atire pedra contra ela. E, tornando a inclinar-se, escrevia na
terra. Quando ouviram isso, saíram um a um, a começar pelos mais velhos até aos
últimos; ficaram só Jesus e a mulher, que estava no meio. E, endireitando-se
Jesus e não vendo ninguém mais do que a mulher, disse-lhe: Mulher, onde estão
aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou? E ela disse: Ninguém, Senhor. E
disse-lhe Jesus: Nem eu também te condeno; vai-te e não peques mais. (Jo
8.3-11)
Mais uma vez a graça é manifesta em
forma de atenção, compaixão, perdão e responsabilização. Sim, a graça perdoa,
mas responsabiliza: “Vai-te em paz e não peques mais”.
Na atualidade, com o advento da
internet, os casos de adultério ganharam uma versão on-line, ou seja, aumenta o
envolvimento emocional em redes sociais, manifesto em trocas de conversas íntimas,
imagens e vídeos com conteúdo sensual e sexual fora do casamento.
São muitas as causas que podem levar
alguém ao adultério. Nenhuma delas se justifica. O perdão da parte ofendida é
uma excelente alternativa no processo de reconstrução de uma aliança quebrada. O
divórcio deve ser sempre a última ação a ser buscada.
O adultério provoca bastante dano para
a vida do casal, podendo destruir definitivamente o casamento. O escândalo que
tal ato provoca é geralmente muito vergonhoso para as partes envolvidas, e muito
constrangedor para a comunidade cristã.
Fugir de tal conduta continua sendo a
decisão mais sensata para o cristão. Citar o exemplo de José nunca é demais (Gn
39.7-9).
SEXO ANTES DO CASAMENTO
Participei de uma palestra para
adolescentes, e fiquei surpreendido com o volume de perguntas enviadas sobre a
prática sexual antes do casamento. Trago aqui algumas considerações sobre o
assunto.
SOBRE O TERMO GREGO PORNEÍA
Em primeiro lugar, é importante
considerar o significado do termo grego porneía. O termo foi traduzido por “fornicação” na seguinte passagem da Almeida
Revista e Corrigida:
Que vos
abstenhais das coisas sacrificadas aos ídolos, e do sangue, e da carne
sufocada, e da fornicação; destas coisas fareis bem se vos
guardardes. Bem vos vá. (At 15.29)
A mesma passagem na Almeida Revista e
Atualizada ficou assim:
que vos
abstenhais das coisas sacrificadas a ídolos, bem como do sangue, da carne de
animais sufocados e das relações sexuais ilícitas; destas coisas
fareis bem se vos guardardes. Saúde.
Conforme Louw e Nida, o termo porneía significa “imoralidade sexual de
qualquer tipo”, e faz alusão às passagens bíblicas que seguem[1]:
Fugi da impureza.
Qualquer outro pecado que uma pessoa cometer é fora do corpo; mas aquele que
pratica a imoralidade peca contra o próprio corpo. (1 Co 6.18, ARA)
Fugi da prostituição.
Todo pecado que o homem comete é fora do corpo; mas o que se prostitui peca
contra o seu próprio corpo. (1 Co 6.18, ARC)
Pois esta é
a vontade de Deus: a vossa santificação, que vos abstenhais da prostituição; (1 Ts 4.3, ARA e
ARC)
como Sodoma,
e Gomorra, e as cidades circunvizinhas, que, havendo-se entregado à prostituição como
aqueles, seguindo após outra carne, são postas para exemplo do fogo eterno,
sofrendo punição. (Jd 7, ARA)
assim como
Sodoma, e Gomorra, e as cidades circunvizinhas, que, havendo-se corrompido como
aqueles e ido após outra carne, foram postas por exemplo, sofrendo a pena do
fogo eterno. (Jd 7, ARC)
Haubeck e Siebenthal definem porneía como: “indecência, relação sexual
ilícita de todo tipo, prostituição, ato de contrair matrimônios proibidos.”[2]
Taylor traduz porneía como “fornicação, co-habitação,
adultério,[3] e Barclay afirma que a palavra é usada geralmente para as relações e
relacionamentos sexuais ilícitos e imorais.[4]
Encontramos no final do Novo Testamento
a seguinte advertência:
Quanto,
porém, aos covardes, aos incrédulos, aos abomináveis, aos assassinos, aos impuros (pórnois),
aos feiticeiros, aos idólatras e a todos os mentirosos, a parte que lhes cabe
será no lago que arde com fogo e enxofre, a saber, a segunda morte. (Ap 21.8, ARA)
Mas, quanto
aos tímidos, e aos incrédulos, e aos abomináveis, e aos homicidas, e aos fornicadores (pórnois),
e aos feiticeiros, e aos idólatras e a todos os mentirosos, a sua parte será no
lago que arde com fogo e enxofre, o que é a segunda morte. (Ap 21.8, ARC)
SOBRE A
LEGITIMAÇÃO DO SEXO ATRAVÉS DO CASAMENTO
Paulo, ao alertar a igreja de Corinto
sobre o perigo da impureza (porneías), orienta a prática sexual dentro
casamento:
Quanto ao
que me escrevestes, é bom que o homem não toque em mulher; mas, por causa da impureza,
cada um tenha a sua própria esposa, e cada uma, o seu próprio marido. (1 Co 7.1-2, ARA)
Ora, quanto
às coisas que me escrevestes, bom seria que o homem não tocasse em mulher; mas,
por causa da prostituição, cada um tenha a sua própria mulher, e
cada uma tenha o seu próprio marido. (1 Co 7.1-2, ARC)
A vida sexual no mundo grego-romano dos
tempos bíblicos era um caos sem lei. Na Grécia, não havia nenhum sentimento de
vergonha nas relações sexuais antes do casamento ou fora dele. Paulo coloca-se
contra essa imoralidade sexual, e chega a espantar-se com o fato de que os
coríntios não estão envergonhados diante do caso do homem que está mantendo
relações sexuais com a esposa de seu pai (1 Co 5.1).[5]
Deus foi o realizador do primeiro
casamento (Gn 2.18-25). Estando o casamento não sujeito a um padrão cerimonial
bíblico, entende-se que Deus o concebe conforme o tempo, cultura, costume e
padrões locais normativos da sociedade, desde que tais padrões não infrinjam
alguns princípios estabelecidos na Bíblia Sagrada, dentre os quais, a
heterossexualidade e a fidelidade conjugal (Gn 1.27, 2.22-25; Ex 20.14, 17; 1Tm
3.2;). O casamento envolve compromisso público e formal, e a observação das
leis locais.
É dessa maneira que o sexo antes do
casamento se enquadra na categoria de imoralidade sexual, e na condição de
imoralidade sexual, os seus praticantes são reprovados nas Escrituras (Ef 5.5;
1 Tm 1.10; Hb 12.16; Ap 21.8). Destacamos aqui o texto bíblico abaixo:
Fugi da impureza (porneían).
Qualquer outro pecado que uma pessoa cometer é fora do corpo; mas aquele que
pratica a imoralidade (porneíon) peca contra o próprio corpo. (1 Co 6.18,
ARA)
Fugi da prostituição (porneían).
Todo pecado que o homem comete é fora do corpo; mas o que se prostitui
(porneíon) peca contra o seu próprio corpo. (1 Co 6.18, ARC)
Comentando o referido texto, McDoweel
nos escreve:
Quando um
jovem se envolve com sexo pré-nupcial, ocorre muitas vezes uma profunda perda
de respeito, não somente pelo próprio corpo, mas também pelo do companheiro. E
quando esse respeito deixa de existir, fica muito mais fácil para uma pessoa
tornar-se promíscua.[6]
Escrevendo aos solteiros e viúvos que
tinham que lidar com o “abrasamento” (gr. pyrousthai, arder em desejo
sexual, ser consumido pela paixão), Paulo não recomenda a prática do sexo antes
do casamento para atenuar ou saciar tal condição, antes, diz:
E aos
solteiros e viúvos digo que lhes seria bom se permanecessem no estado em que
também eu vivo. Caso, porém, não se dominem, que se casem; porque é
melhor casar do que viver abrasado. (1 Co 7.8-9, ARA)
Digo, porém,
aos solteiros e às viúvas, que lhes é bom se ficarem como eu. Mas, se não podem
conter-se, casem-se. Porque é melhor casar do que abrasar-se. (1 Co 7.8-9, ARC)
O jovem cristão que já se envolveu em
carícias íntimas no namoro, ou que já chegou ao ponto da prática sexual antes
do casamento, sabe o quanto isso comprometeu sua vida espiritual, emocional e
social. A quebra de princípios bíblicos sempre resulta em diversos males para o
transgressor.
SOBRE O VALOR
DA VIRGINDADE (CASTIDADE) NA BÍBLIA
Há várias passagens bíblicas que
destacam o valor da virgindade, do se manter “puro” antes do casamento. Vejamos
algumas:
Viúva, ou repudiada, ou desonrada, ou
prostituta, estas não tomará (o sumo sacerdote), mas virgem do
seu povo tomará por mulher. (Lv 21.14, ARA)
Se um homem
casar com uma mulher, e, depois de coabitar com ela, a aborrecer, e lhe
atribuir atos vergonhosos, e contra ela divulgar má fama, dizendo: Casei com
esta mulher e me cheguei a ela, porém não a achei virgem, então, o
pai da moça e sua mãe tomarão as provas da virgindade da moça
e as levarão aos anciãos da cidade, à porta. O pai da moça dirá aos anciãos:
Dei minha filha por mulher a este homem; porém ele a aborreceu; e eis que lhe
atribuiu atos vergonhosos, dizendo: Não achei virgema tua filha;
todavia, eis aqui as provas da virgindade de minha filha. E
estenderão a roupa dela diante dos anciãos da cidade, os quais tomarão o homem,
e o açoitarão, e o condenarão a cem siclos de prata, e o darão ao pai da moça,
porquanto divulgou má fama sobre uma virgem de Israel. Ela
ficará sendo sua mulher, e ele não poderá mandá-la embora durante a sua vida. (Dt 22.13-19,
ARA)
Jerusalém é chamada de virgem:
Que poderei
dizer-te? A quem te compararei, ó filha de Jerusalém? A quem te assemelharei,
para te consolar a ti, ó virgem filha de Sião? Porque grande
como o mar é a tua calamidade; quem te acudirá? (Lm 2.13)
A Igreja é comparada a uma virgem:
Porque zelo
por vós com zelo de Deus; visto que vos tenho preparado para vos apresentar
como virgem pura a um só esposo, que é Cristo. (2 Co 11.2)
Observamos então, que apesar de não
encontrarmos um texto que literalmente diga: “o sexo antes do casamento é pecado”,
é possível compreender através da Bíblia que o sexo antes do casamento é
reprovado, considerado impureza sexual, e por isso, passivo de repreensão e das
consequências negativas aqui descritas.
Acaso, não
sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que está em vós, o qual
tendes da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados
por preço. Agora, pois, glorificai a Deus no vosso corpo. (1 Co
6.19-20)
[1] LOUW, Johannes; NIDA, Eugene. Léxico
Grego-Português do Novo Testamento: baseado em domínios semânticos. Barueri,
SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2013, p. 685.
[2] HAUBECK, Wilfrid; SIEBENTHAL, Heinrich
Von. Nova chave lingüística do Novo Testamento Grego. São Paulo:
Targumim/Hagnos, 2009, p. 804.
[6] McDOWELL, Josh. Como evitar que o jovem
sofra com as paixões sexuais. 2 ed. São Paulo: Bom Pastor, 1994, 162.
2 comentários:
Olá Pr. Altair Germano, Graça e Paz...
A abordagem dos Dez mandamentos sempre será um tema que irá nos surpreender, visto que os crentes de hoje, não segue nenhum ou quase nenhum padrão bíblico em suas vidas cotidianas.
O amado nesta postagem, tem como tema o "Adultério". Citou-o na primeira parte da postagem; porém, logo mudou para o tema "Fornicação ou sexo ilícito". Talvez, tenha assim procedido para aproveitar a complexidade do tema, pois adultério e fornicação tem um paralelo em comum. (grifo meu).
Gostaria de lhe perguntar:Com base nas duas questões supra do texto: "Adultério e fornicação"; Como o Senhor ver a igreja evangélica de hoje? Uma igreja que sem relativizar, é composta quase que na maioria por jovens fornicadores, mães solteiras, e o pior, por ministros adúlteros. Não são adúlteros os que "repudiam, divorciam" dos seus conjungem e casam com outro? Ou será que Mt-19:3-9 já foi abolido da lei?.
É, só uma pergunta que as vezes faço a mim mesmo!!!
Pastor Altair, amo ler os seus maravilhosos textos, e aprendo muito com a sabedoria que o bom Deus lhe concedeu. Deus lhe abençoe em nome de Cristo Jesus......
Maravilhoso, que Deus continue abençoando o seu blog Pastor.
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