O texto de Tiago 4.11-17,
além de tratar sobre o julgamento e a soberania de Deus, aborda também sobre o
pecado da maledicência e a arrogância humana.
O
PECADO DA MALEDICÊNCIA
Irmãos,
não faleis mal uns dos outros. Aquele que fala mal do irmão ou julga a seu
irmão fala mal da lei e julga a lei; ora, se julgas a lei, não és observador da
lei, mas juiz. Um só é Legislador e Juiz, aquele que pode salvar e fazer
perecer; tu, porém, quem és, que julgas o próximo? (Tg
4.11-12)
A Bíblia nos ensina que é
possível entre os crentes regenerados haver quem fale mal do seu irmão. Falar
mal significa: expressar hostilidade, caluniar, injuriar, insultar, ofender,
ultrajar, vilipendiar, falar coisas ruins, etc.
O pecado da maledicência é
veementemente proibido em vários textos:
O
caluniador não se estabelecerá na terra; ao homem violento, o mal o perseguirá
com golpe sobre golpe. (Sl 140.11)
Longe
de vós, toda amargura, e cólera, e ira, e gritaria, e blasfêmias, e bem assim
toda malícia. (Ef 4.31)
Mas,
agora, vos escrevo que não vos associeis com alguém que, dizendo-se irmão, for
impuro, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com
esse tal, nem ainda comais. (1 Co 5.11)
Da
mesma sorte, quanto a mulheres, é necessário que sejam elas respeitáveis, não
maldizentes, temperantes e fiéis em tudo. (1 Tm 3.11)
Despojando-vos,
portanto, de toda maldade e dolo, de hipocrisias e invejas e de toda sorte de
maledicências, (1 Pe 2.1)
O verbo grego no imperativo
presente katalaleite (falar mal),
antecedido da negativa me (não) em
Tiago 4.11, revela que a ação já estava em andamento na igreja, e que precisava
ser refreada continuamente.
O juízo feito entre irmãos
não tinha como propósito a motivação correta de reparar um dano, antes, estavam causando danos
uns aos outros através da maledicência. Tratava-se de crítica destrutiva, em
vez de construtiva.
A
MALEDICÊNCIA, O JULGAMENTO E A LEI
A declaração de Tiago de que
o maledicente fala mal e julga a própria Lei, pode ser compreendida das
seguintes maneiras:
- Ao falar mal de um irmão,
falamos mal da Le e a julgamos, pois ela nos proíbe que o façamos (Lv 19.16,
18) (J. Gill);
- Quando falamos mal e
julgamos os irmãos, geralmente o fazemos em áreas da vida sobre as quais as
leis de Deus não se pronunciam com clareza ou que nos deixa a liberdade de agir
como quisermos. Dessa forma, acabamos achando defeito na própria lei de Deus
por não se pronunciar sobre esses assuntos (M. Henry);
- Ao falar mal de um irmão e
ao julgá-lo, tomamos a lei em nossas mãos e assumimos o papel de legisladores.
Ao fazer isso, julgamos a lei e até achando falta nela. (J. Calvino)
Vale lembra que o julgamento
condenado por Tiago não diz respeito ao ato de avaliar os erros e pecados dos
irmãos com o objetivo de corrigi-los e conduzi-los ao arrependimento (Mt 7.6; 18.15;
Lc 17.3; Gl 6.1; 1 Jo 4.1; Ap 2.2). O procedimento que conduz a conversão de um
irmão pecador é recomendado pelo próprio Tiago (5.19, 20).
Somente Deus, o único
Legislador e Juíz soberano, através de suas leis, pode julgar os homens no
âmbito em que Tiago censura a maledicência/julgamento (Tg 4.12).
A
SOBERANIA DE DEUS E A ARROGÂNCIA HUMANA
Atendei,
agora, vós que dizeis: Hoje ou amanhã, iremos para a cidade tal, e lá
passaremos um ano, e negociaremos, e teremos lucros. Vós não sabeis o que
sucederá amanhã. Que é a vossa vida? Sois, apenas, como neblina que aparece por
instante e logo se dissipa. Em vez disso, devíeis dizer: Se o Senhor quiser,
não só viveremos, como também faremos isto ou aquilo. Agora, entretanto, vos jactais das vossas
arrogantes pretensões. Toda jactância semelhante a essa é maligna.
(Tg 4.13-16)
A soberania de Deus, o faz
Senhor absoluto sobre toda a criação, e nos é revelada conforme abaixo:
Soberania
não é uma propriedade da natureza divina, mas uma prerrogativa oriunda das
perfeições do Ser Supremo. Se Deus é Espírito, e portanto uma pessoa infinita,
eterna e imutável em suas perfeições, o Criador e preservador do universo, a
soberania absoluta é um direito seu. A infinita sabedoria, bondade e poder, com
o direito de posse que pertence a Deus no tocante às suas criaturas, são o
fundamento imutável de seu domínio (cf. Sl 115.3; Dn 4.35; 1 Cr 29.11; Ez 18.4;
Is 45.9; Mt 20.15; Ef 1.11; Rm 11.36) (Charles Hodge, p. 331, 2001).
Os textos abaixo nos falam sobre a soberania e a autoridade de Deus:
No céu está o nosso Deus e tudo faz como lhe agrada. (Sl 115.3)
Todos os moradores da terra são
por ele reputados em nada; e, segundo a sua vontade, ele opera com o exército
do céu e os moradores da terra; não há quem lhe possa deter a mão, nem lhe
dizer: Que fazes” (Dn 4.35)
Teu, SENHOR, é o poder, a
grandeza, a honra, a vitória e a majestade; porque teu é tudo quanto há nos
céus e na terra; teu, SENHOR, é o reino, e tu te exaltaste por chefe sobre
todos.” (1 Cr 29.11)
Ai daquele que contende
com o seu Criador! E não passa de um caco de barro entreoutros cacos.
Acaso, dirá o barro ao que lhe dá forma: Que fazes? Ou: A tua obra não tem alça.
(Is 45.9)
Porventura, não me é lícito
fazer o que quero do que é meu? Ou são maus os teus olhos porque eu sou bom? (Mt
20.15)
[...] nele, digo, no qual
fomos também feitos herança, predestinados segundo o propósito daquele que faz
todas as coisas conforme o conselho da sua vontade,
(Ef 1.11)
Deus não condena o
planejamento em si mesmo, mas a maneira como ele algumas vezes é feito. Excluir
a ajuda de Deus dos nossos planos, ou simplesmente pedir que ele os aprove sem
opinar, é pecado de arrogância, pois transmite a ideia de que não precisamos ou
dependemos dele para conseguir os nossos objetivos pessoais, profissionais,
ministeriais, eclesiais, etc.
Hoje
ou amanhã, iremos para a cidade tal, e lá passaremos um ano, e negociaremos, e
teremos lucros.
Onde está Deus no projeto
acima? Pelo contrário, há uma clara manifestação da presunção humana, da auto-suficiência,
da independência de Deus. Tal atitude é condenada pela seguinte sentença:
Vós
não sabeis o que sucederá amanhã. Que é a vossa vida? Sois, apenas, como
neblina que aparece por instante e logo se dissipa. Em vez disso, devíeis
dizer: Se o Senhor quiser, não só viveremos, como também faremos isto ou
aquilo. Agora, entretanto, vos jactais
das vossas arrogantes pretensões [...]
A efemeridade da vida é
citada por Tiago, assim como o fez Oséias, demonstrando a falibilidade dos
projetos meramente humanos;
Por
isso, serão como nuvem de manhã, como orvalho que cedo passa, como palha que se
lança da eira e como fumaça que sai por uma janela. (Os
13.3)
O salmista diz o mesmo:
Com
efeito, passa o homem como uma sombra; em vão se inquieta; amontoa tesouros e
não sabe quem os levará. (Sl 39.6)
Porque
os meus dias, como fumaça, se desvanecem, e os meus ossos ardem como em
fornalha. (Sl 102.3)
Ninguém pode garantir o
sucesso de seus próprios planos. Somente com a ajuda de Deus poderemos
prosperar e realizar conquistas para a sua glória. [...] se o Senhor quiser. Essa é a atitude que deve nortear os
planos de um homem e mulher de Deus:
Então,
disse o rei a Zadoque: Torna a levar a arca de Deus à cidade. Se achar eu graça
aos olhos do SENHOR, ele me fará voltar para lá e me deixará ver assim a arca
como a sua habitação. (2 Sm 15.25)
Mas,
despedindo-se, disse: Se Deus quiser, voltarei para vós outros. E, embarcando,
partiu de Éfeso. (At 18.21)
mas,
em breve, irei visitar-vos, se o Senhor quiser, e, então, conhecerei não a
palavra, mas o poder dos ensoberbecidos. (1 Co 4.19)
Porque
não quero, agora, ver-vos apenas de passagem, pois espero permanecer convosco
algum tempo, se o Senhor o permitir. (1 Co 16.7)
Isso
faremos, se Deus permitir. (Hb 6.3)
Em relação aos planos
futuros, o sábio nos ensina:
Muitos
propósitos há no coração do homem, mas o desígnio do SENHOR permanecerá.
(Pv 19.21)
Que o Senhor nos ajude, e
nos trate, nos curando e libertando de toda maledicência, orgulho, presunção,
prepotência, soberba, altivez e arrogância. De tudo aquilo que não busca o bem
do próximo, nem a glória de Deus.
Quem sabe o bem que deve
fazer e não o faz, peca (Tg 4.17).
O
conhecimento do dever que não é usado é pecado, o pecado de omissão (A.
T. Robertson)
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
FRIBERG, Barbara; FRIBERG,
Timothy. O Novo Testamento Grego
Analítico. São Paulo: Vida Nova, 2006.
HODGE, Charles. Teologia Sistemática. São Paulo: Hagnos,
2001.
LOPES, Augustus Nicodemus. Interpretando a Carta de Tiago. São
Paulo: Cultura Cristã, 2006.
SHEDD, Russel P.; BIZERRA,
Edmilson F. Uma exposição de Tiago: a
sabedoria de Deus. São Paulo: Shedd Publicações, 2010.
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