Uma liderança forte não é sinônimo de uma liderança centralizadora e dominadora. Ao contrário do que muitos pensam, quanto mais centralizadora e dominadora for a liderança, mas frágil e suscetível ao fracasso será. Observemos alguns exemplos bíblicos que comprovam tal afirmação.
O
CASO DE MOISÉS
Disse
o SENHOR a Moisés: Ajunta-me setenta homens dos anciãos de Israel, que sabes
serem anciãos e superintendentes do povo; e os trarás perante a tenda da
congregação, para que assistam ali contigo. Então, descerei e ali falarei
contigo; tirarei do Espírito que está sobre ti e o porei sobre eles; e contigo
levarão a carga do povo, para que não a leves tu somente.
(Nm 11.16-17)
Todo líder que intenta
carregar sozinho a carga das necessidades e preocupações com o povo sucumbirá.
Foi por isso que o Senhor orientou Moisés no sentido de compartilhar a sua
liderança com setenta homens de respeito dentre o povo. Moisés escolheria os
homens conforme a integridade de caráter e liderança que já exerciam dentre o
povo, e o Senhor colocaria sobre eles do Espírito que agia na vida de Moisés.
Tal ato não enfraqueceu a liderança de Moisés, antes promoveu a possibilidade
dele permanecer focado em tarefas mais essenciais. A postura descentralizadora
foi também sugerida a Moisés por seu sogro Jetro (Êx 18.13-27).
O
CASO DA SUCESSÃO DE JUDAS
Os Doze apóstolos,
escolhidos pelo próprio Jesus, poderiam ter incorrido em algum tipo de
liderança centralizadora e dominadora, tendo em vista a grande autoridade lhes delegada (Mt
28.28-18-20; Mc 16.14-20), mas em vez disso, optaram por compartilhar com
outros as grandes decisões que envolveu a igreja no período apostólico.
Naqueles
dias, levantou-se Pedro no meio dos irmãos (ora, compunha-se a assembléia de
umas cento e vinte pessoas) e disse: [...] (At 1.15)
Na sucessão de Judas, o
texto que narra o episódio se inicia informando quem participou da discussão e
decisão sobre o assunto: os apóstolos e os irmãos em geral (cerca de 120
pessoas reunidas). Os verbos no plural que se seguem nos versículos seguintes,
como por exemplo, “propuseram” (v. 23), “orando, disseram e revela-nos” (v. 24)
e “lançaram” (v. 26) inclui toda a assembleia reunida.
O
CASO DA ESCOLHA DOS PRIMEIROS DIÁCONOS
Mas,
irmãos, escolhei dentre vós sete homens de boa reputação, cheios do Espírito e
de sabedoria, aos quais encarregaremos deste serviço; [...] (At
6.3)
No texto que é considerado
como a instituição do diaconato na igreja, o caso não foi diferente. Mais uma vez os
apóstolos compartilharam a decisão com a comunidade cristã, a quem foi
outorgada a responsabilidade de escolher aqueles que serviriam na administração
da distribuição diária dos donativos. A decisão compartilhada agradou a todos (v.
5). Os homens foram escolhidos conforme as qualidades prescritas pelos
apóstolos, que lhes impuseram as mãos (v. 6).
O
CASO DA CONTROVÉRSIA SOBRE A CIRCUNCISÃO DOS GENTIOS
Tendo
eles chegado a Jerusalém, foram bem recebidos pela igreja, pelos apóstolos e
pelos presbíteros e relataram tudo o que Deus fizera com eles [...]. Então, se
reuniram os apóstolos e os presbíteros para examinar a questão [...]. Então,
pareceu bem aos apóstolos e aos presbíteros, com toda a igreja, tendo elegido
homens dentre eles, enviá-los, juntamente com Paulo e Barnabé, a Antioquia:
foram Judas, chamado Barsabás, e Silas, homens notáveis entre os irmãos, escrevendo,
por mão deles: Os irmãos, tanto os apóstolos como os presbíteros, aos irmãos de
entre os gentios em Antioquia, Síria e Cilícia, saudações.
(At 15.4, 6, 22, 23)
A liderança participativa,
marca do apostolado bíblico, é aqui mais uma vez ratificada. Em todo o contexto
da decisão sobre a questão da circuncisão dos crentes gentios a igreja, os
presbíteros (anciãos) e os apóstolos interagem e deliberam sobre a questão. O
parecer sobre o caso é decisão de toda a assembléia reunida em Jerusalém: “Então, pareceu bem aos apóstolos e aos
presbíteros, com toda a igreja [...]” (v. 22). A menção do Espírito Santo
sinaliza que tal postura na elaboração do parecer sobre o assunto teve a sua
aprovação (v. 28).
A
CLAREZA NA ORIENTAÇÃO DADA PELO APÓSTOLO PEDRO
Rogo,
pois, aos presbíteros que há entre vós, eu, presbítero como eles, e testemunha
dos sofrimentos de Cristo, e ainda co-participante da glória que há de ser
revelada: pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós, não por
constrangimento, mas espontaneamente, como Deus quer; nem por sórdida ganância,
mas de boa vontade; nem como dominadores dos que vos foram confiados, antes,
tornando-vos modelos do rebanho. Ora, logo que o Supremo Pastor se manifestar,
recebereis a imarcescível coroa da glória. (1 Pe 5.1-4)
De forma bastante clara
Pedro censura a postura dominadora. O termo grego traduzido por “dominadores” é
katakyrieuontes, que significa
literalmente “exercer controle completo, oprimir, subjugar, dominar com
violência sobre alguém, governar de forma arrogante”.
No atual contexto evangélico
brasileiro testemunhamos pessoas que exercem os cargos de apóstolos, bispos e
pastores presidentes, que incorrem no antigo e medieval erro da dominação sobre
o rebanho, e sobre os demais líderes da igreja.
Pedro, de forma bastante coerente e humilde se coloca numa posição de "líder como ou com", em vez de "líder sobre": "Rogo, pois, aos presbíteros que há entre vós, eu, presbítero como eles" (v. 1).
Uma liderança estabelecida
por Deus se fortalecerá na medida em que se submeter às orientações do Senhor
dadas em sua Palavra, de seguir os modelos bíblicos, entendendo que
compartilhar decisões, em vez de centralizar decisões, é o melhor caminho a seguir na
condução dos negócios do Pai.
Os que agirem de maneira diferente
contemplarão a ruína de sua liderança, que da fragmentação inicial caminhará
para a total impossibilidade de sustentação.
Mude urgentemente de postura
em relação à liderança, antes que você precise ser removido urgentemente da posição
de líder.
Lembra-te,
pois, de onde caíste, arrepende-te e volta à prática das primeiras obras; e, se
não, venho a ti e moverei do seu lugar o teu candeeiro, caso não te arrependas. (Ap
2.5)
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