Palavra
do Senhor que veio a Miqueias, morastita, nos dias de Jotão, Acaz e Ezequias,
reis de Judá, a qual ele viu sobre Samaria e Jerusalém (Mq
1.1)
Miqueias, assim como outros
profetas já estudados, se enquadra no perfil daqueles que a sua origem humilde
não impediu que fossem vocacionados por Deus para uma grande obra. O Senhor não
faz acepção de pessoas.
Grandes profetas nem sempre
surgem de grandes cidades, dos grandes centros religiosos, políticos,
econômicos e sociais. Assim como Elias, o tisbita, e Jesus, o nazareno, Miqueias,
o morastita, é portador de uma mensagem que veio da parte de Deus.
O livro de Miqueias é um
chamado para se ouvir a voz do Senhor.
TODOS OS POVOS DEVEM OUVIR A
VOZ DO SENHOR
Ouvi,
todos os povos, presta atenção, ó terra, em tua plenitude, e seja o Senhor
Jeová testemunha sobre vós, o Senhor, desde o templo da sua santidade.
(1.2)
Os habitantes da terra, em
toda a sua plenitude devem considerar, ouvir cuidadosamente, obedecer (hb. quasabh) a voz do Deus santo.
O juízo de Deus sobre a
prevaricação (hb. pesa’, rebelião,
transgressão) e o pecado (hb. hatta’ah,
ofensa, iniquidade) de Samaria e Jerusalém é anunciado, e deve servir de alerta
para todas as nações. O Senhor que edifica, é o mesmo Senhor que transforma
tudo em um montão de pedras, ao ponto de expor os fundamentos (1.6). O pecado
da idolatria (prostituição espiritual) é denunciado (1.7). Outros pecados são
citados ao longo do livro, tais como a injustiça social, a violência, a
mentira, a corrupção e a formalidade do culto.
Longe de ser insensível, um
profeta de Deus não se alegra com os erros do seu povo, antes, chora e lamenta
pela situação (1.8).
OS CHEFES (REIS, PRINCÍPES,
SACERDOTES E PROFETAS) DEVEM OUVIR A VOZ DO SENHOR
Mais
disse eu: Ouvi agora vós, chefes de Jacó, e vós, príncipes da casa de Israel:
não é a voz que pertence saber o direito? (3.1)
Os chefes (hb. ro’s, governantes, líderes), que
deveriam trabalhar para o bem do povo, maquinavam e praticavam o mal (2.1),
cobiçavam os campos e as casas dos menos afortunados, e na condição de
opressores e exploradores, tomavam dos mais pobres os seus bens e a sua
herança, e isso usando de violência (2.2-3). Aqueles que deveriam ser
promotores da justiça pervertiam o direito (3.1). A injustiça social era tanta
que a metáfora utilizada para descrevê-la é muito forte:
A
vós que aborreceis o bem e amais o mal, que arrancais a pele de cima deles e a
sua carne de cima dos seus ossos, e que comeis a carne do meu povo, e lhes
arrancais a pele, e lhes esmiuçais os ossos, e os repartis como para a panela e
como carne do meio do caldeirão. (3.2-3)
Não muito diferente dos dias
de Miqueias, boa parte da liderança política no Brasil vive da miséria alheia,
e como recompensa são recebidos em nossas tribunas e púlpitos, e apoiados em
períodos eletivos. O pior é que algumas lideranças evangélicas sabem da
situação, mas se fazem de desinformadas. Quantos “fichas sujas” não foram
apoiados por pastores na última eleição? Com quantos corruptos, ladrões e
bandidos não foram feitos alianças e acertos imorais e ilegais?
Ouvi
agora isto, vós, chefes da casa de Jacó, e vós maiorais da casa de Israel, que
abominais o juízo e perverteis tudo que é direito, edificando Sião com sangue e
a Jerusalém com injustiça. (3.9-10)
O grave nisso tudo é a
conivência dos sacerdotes (autoridade religiosa), que deveriam confrontar o rei
e os príncipes com a Lei do Senhor. As sentenças são dadas em troca de
presentes, enquanto os ensinos dos sacerdotes buscam os seus interesses
pessoais, ou seja, ensinavam por conveniência (3.11a). Não nos parece tal
postura com a de alguns ensinadores e pregadores, que em busca de seus próprios
interesses (agendas, ofertas, permanência no cargo, presentes, etc.) ensinam e
pregam por conveniência?
E o que falar dos profetas?
Deixemos que o próprio texto nos fale:
Não
profetizeis; os que profetizam, não profetizem deste modo, que se não apartará
a vergonha (2.6)
Se
houver algum que siga o seu espírito de falsidade, mentindo e dizendo: Eu te
profetizarei acerca do vinho e da bebida forte; será esse tal o profeta deste
povo.
(2.11)
[...]
e os seus profetas adivinham por dinheiro, e ainda se encostam ao Senhor,
dizendo: Não está o Senhor no meio de nós? Nenhum mal nos sobrevirá.
(3.11b)
Mais uma vez a semelhança
com os dias atuais é muito grande. O número de mercenários e mercadores da
pregação e do ensino se multiplica na igreja. O pior é que tem quem pague pelos
altos cachês dos “astros e estrelas da fé”. Pelos profissionais do púlpito.
Um pastor amigo meu,
presidente de uma campo eclesiástico num dos estados do Brasil, me falou que um
destes lhe procurou em seu gabinete, e
lhe confessou que apesar de uma agenda muito concorrida, e de pregar em
grandes eventos, na realidade não era crente de verdade. O pregador disse que
tudo que fazia era mera repetição do que aprendeu observando. Quantos não
existem na mesma condição? Há um livro que pretendo publicar no próximo ano,
onde mais uma vez falarei da crise na pregação e no ensino dentro das igrejas
evangélicas brasileiras.
Para os chefes de seu povo o
Senhor diz:
Portanto,
por causa de vós, Sião será lavrado como um campo, e Jerusalém se tornará em
montões de pedra, e o monte desta casa, em lugares altos de um bosque. (3.12)
Os líderes podem cooperar
para o crescimento e desenvolvimento de um povo, de uma nação, de uma igreja,
ou para a destruição destes. Podem ser canais de bênçãos, ou podem atrair juízo.
Denunciar o pecado da
liderança e de um povo nunca foi tarefa fácil. A liderança é detentora do poder
de matar e deixar viver, incluir ou excluir, abrir portas ou fechar portas
(isso tudo dentro de uma vontade permissiva de Deus). É por isso que Miqueias
afirma:
Mas,
decerto, eu sou cheio da força do Espírito do Senhor e cheio de juízo e de
ânimo, para anunciar a Jacó a sua transgressão e a Israel o seu pecado.
(3.8)
Somente cheio do Espírito é
que um homem ou uma mulher de Deus pode convocar seus pares ao arrependimento e
à conversão ao Senhor, e isso sem temer as consequências, sem se preocupar com
o martírio.
CONCLUSÃO
Apesar dos juízos de Deus, o
livro de Miqueias nos apresenta também uma mensagem de esperança e de
restauração (2.12-13; 4.1-13; 5.2- 4, 9; 9.7-9).
Uma belíssima exortação
encontra-se em Miqueias, que manifesta a vontade de Deus em nossa relação com o
próximo e com Ele:
Ele
te declarou ó homem o que é bom; e que é que o Senhor pede de ti, senão que
pratiques a justiça, e ames a beneficência, e andes humildemente com o teu
Deus? (6.8)
O livro termina com uma
oração onde os atributos comunicáveis de Deus são destacados e exaltados:
Quem,
ó Deus é semelhante a ti, que perdoas a iniquidade que te esqueces da rebelião
do restante da tua herança? O Senhor não retém a sua ira para sempre, porque
tem prazer na benignidade. Tornará a apiedar-se de nós, subjugará as nossas
iniquidades e lançará todos os nossos pecados nas profundezas do mar. Darás a
Jacó a fidelidade e a Abraão, a benignidade que juraste a nossos pais desde os
dias antigos. (7.18-20)
Amém!
Jundiaí-SP, 13/11/2012
Nenhum comentário:
Postar um comentário