A soberania e a misericórdia
de Deus são os temas predominantes nesta belíssima narrativa bíblica, que é o
livro de Jonas.
A
SOBERANIA DE DEUS NA VOCAÇÃO PROFÉTICA
“E veio a palavra do Senhor a Jonas, filho de Amitai, dizendo:” (Jn
1.1)
É Deus quem soberanamente
vocaciona profetas. A vocação soberana de Deus para os diversos ministérios
pode ser confirmada através de sua Palavra (Gn 12.1-2; Êx 3.10; Jz 6.9; 1Sm
16.1; Jr 1.5; Mt 20.23; Mc 3.13-19; Lc 1.31-33; Jo 15.16; At 9.10-16; 13.1-2;
20.28; Gl 1.15; 1 Tm 1.12-16; 2 Tm 1.8-11; Hb 5.4).
Profeta não é cargo. Cargos
se negociam, podem ser vendidos, comprados ou trocados. O ministério profético
é concessão divina.O profeta pode ser originário de qualquer classe social,
pode ter ou não um bom nível de educação formal, pode ser ou não eloquente, mas
uma qualidade precisa ter: integridade diante do povo e santidade diante de
Deus.O profeta não é um homem perfeito, mas precisa caminhar constantemente
nesta direção, buscando ao máximo a maturidade espiritual.
A palavra do Senhor veio até
Jonas. Por qual motivo? Pelo simples fato de que Deus assim quis. A palavra do
Senhor vem para quem Ele resolve concedê-la.
Que a palavra do Senhor
continue vindo aos seus profetas!
A
SOBERANIA DE DEUS NA DIREÇÃO DA SUA OBRA
“Levanta-te, vai à grande cidade de Nínive e clama contra ela, porque a
sua malícia subiu até mim.” (1.2)
É Deus quem soberanamente
determina para quem sua palavra será direcionada. Deus deseja que todos os
homens se salvem e venham ao conhecimento da verdade (1 Tm 2.4), mas quem
determinar em última instância a direção de sua mensagem é Ele. Nem sempre Deus
concorda com o nosso plano missionário ou evangelístico. O Espírito Santo
impediu num determinado momento que a palavra fosse anunciada na Ásia, para que
a Macedônia recebesse a pregação do evangelho (At 16.6-12). Na ordem do alcance
dos povos, primeiro veio o judeu, para depois vir o grego (Mt 15.24; Jo 10.16; Rm
1.16; 3.1-2).
O campo missionário de Jonas
seria Nínive (para discussões sobre as questões geográficas sugiro o comentário
de T. Desmond Alexander, da série cultura bíblica, Editora Vida Nova). Deus não
se submete à lógica humana. É o Senhor quem conhece perfeitamente as
necessidades dos povos e nações. Quando pensamos em evangelizar os
aparentemente mais quebrantados em relação ao evangelho, Ele nos direciona para
os mais hostis. Dessa maneira, sempre é proporcionada a oportunidade da graça
superabundar onde o pecado abundou (Rm 5.20). Não foi assim com Paulo, o grande
perseguidor (At 9.15-16)? Não terá sido assim com você?
Da perspectiva do profeta, Nínive seria uma nação improvável para a salvação, cabendo-lhe apenas uma
sentença divina condenatória, um clamor contra ela por causa de sua malícia
(hb. ra‘, mal, mau nocivo, ruindade,
ofensa, maldade). Não pensamos muitas vezes como Jonas? Não tememos muitas
vezes come ele temeu? Não tentamos fugir como ele fugiu numa direção totalmente
contrária a de Deus?
A
SOBERANIA DE DEUS SOBRE A NATUREZA
“Mas o Senhor mandou ao mar um grande vento, e fez-se no mar uma grande
tempestade, e o navio estava pra quebrar-se.” (Jn 1.4)
É Deus quem soberanamente
domina e controla as forças da natureza. Ele é poderoso para provocar
tempestades (Jn 1.4, 13), acalmar a sua fúria (Jn 1.15; Mt 8.23-27; Mc 4.35-41;
Lc 8.22-25) e para intervir em seu curso natural (Êx 14.21-22; Js3.14-17; 2 Rs
2.8, 14). O Senhor é soberano sobre a natureza para fazer chover (Dt 28.12; 1Rs
18.41-45) ou para provocar estiagens (Dt 28.24; 1 Rs 17.1; 2 Cr 7.13).
“Deparou, pois, o SENHOR um grande peixe, para que tragasse a Jonas; e
esteve Jonas três dias e três noites nas entranhas do peixe.” (1.17)
A soberania de Deus sobre a
sua criação é percebida também na providência de um grande peixe (hb. dag gadol) para salvar Jonas do
afogamento e reconduzi-lo a sua missão. A criação obedece ao criador. Ele faz
corvos alimentar profetas (1 Rs 17.3-7), jumenta repreendê-los (Nm 22.25-30) e
grandes peixes de salva-vidas e guias.
A
SOBERANIA DE DEUS SOBRE AS DECISÕES HUMANAS
“E dizia cada um ao seu companheiro: Vinde, e lancemos sortes, para que
saibamos por que causa nos sobreveio este mal. E lançaram sortes, e a sorte
caiu sobre Jonas.” (1.7)
É Deus quem soberanamente controla
e dirige as decisões humanas para que o seu supremo propósito se realize. A
sorte caiu sobre Jonas, ou seja, ele de fato era a causa de todo o problema, e
o Senhor não omitiu isso dos marinheiros, nem do próprio Jonas (1.12).
Em Atos 1.26 acontece um
caso semelhante onde o lançar sortes indica Matias como sucessor de Judas,
decisão essa regada sobre oração (At 1.24). No meu entendimento a escolha de
Matias foi acertada. O argumento que alguns usam para desqualificá-lo, de que o
seu nome não é mais citado na Bíblia é falho, pois entre os Doze que andaram
com Jesus, alguns não são mencionados fora dos evangelhos.
A soberania de Deus nas questões
humanas é manifesta em Daniel 2.21: “Ele
muda os tempos e as horas; ele remove reis e estabelece os reis; ele dá
sabedoria aos sábios e ciência aos inteligentes.” O sábio afirmou: “Como ribeiros de águas, assim é o coração do
rei na mão do Senhor; a tudo quanto quer o inclina.” (Pv 21.1). A liberdade
humana se rende sempre que entra em confronto com a soberania de Deus, quando
este decide executar os seus planos para o bem maior de seus filhos.
Sim, Deus controla os
acontecimentos!
A
SOBERANIA DE DEUS SOBRE O CONTEÚDO DE SUA MENSAGEM
“E veio a palavra do SENHOR segunda vez a Jonas, dizendo: Levanta-te, e
vai à grande cidade de Nínive, e prega contra ela a pregação que eu te disse. E
levantou-se Jonas e foi a Nínive, segundo a palavra do SENHOR; era, pois,
Nínive uma grande cidade, de três dias de caminho. E começou Jonas a entrar
pela cidade caminho de um dia, e pregava, e dizia: Ainda quarenta dias, e
Nínive será subvertida.” (3.1-4)
Por mais belos e bem
estruturados que sejam os sermões, eles não serão plenamente eficazes se a
mensagem não for dada por Deus. Por mais eloquente e polido que seja o
mensageiro, isso não substitui a necessidade de uma palavra vinda do Senhor.
Devemos estudar, pesquisar,
nos preparar, mas nunca esquecendo de buscar em Deus a sua palavra, a mensagem
para o seu povo. Precisamos esperar até que a palavra queime em nosso coração.
Precisamos sentir o poder da palavra antes de transmitirmos essa palavra. Ela
precisa nos impactar, antes de impactar nossos ouvintes.
O poder de uma mensagem não
está necessariamente relacionado com o seu tamanho ou polidez. Mensagens curtas
podem ser poderosas. O poder de uma mensagem está em a mesma vir da parte do
Senhor, se fundamentando em sua palavra escrita, a Bíblia Sagrada. Deus não se
contradiz.
A mensagem de Jonas foi curta
(apenas cinco palavras no hebraico) e poderosa, promovendo nos ninivitas fé, confiança
(hb. ’aman), humilhação e conversão (hb.
subh, voltar-se, mudar de direção,
regressar) para com Deus (3.5-9).
A
SOBERANIA DE DEUS NA CONCESSÃO DE SUA MISERICÓRDIA (COMPAIXÃO)
“Então, disse Deus a Jonas: É acaso razoável que assim te enfades por
causa da aboboreira? E ele disse: É justo que me enfade a ponto de desejar a
morte. E disse o SENHOR: Tiveste compaixão da aboboreira, na qual não
trabalhaste, nem a fizeste crescer; que, em uma noite, nasceu e, em uma noite,
pereceu; e não hei de eu ter compaixão da grande cidade de Nínive, em que estão
mais de cento e vinte mil homens, que não sabem discernir entre a sua mão
direita e a sua mão esquerda, e também muitos animais?” (4.9-11)
Deus não está interessado se
o profeta ficará preocupado com a sua reputação, se aprovará ou não a sua decisão
final, se ficará ou não ressentido (4.1) quando soberanamente resolve suspender
uma decisão sua já anunciada, e isso baseado na mudança da atitude dos homens
em relação a Ele.
Todos os atributos morais de
Deus trabalham em conjunto. Os seus atos de justiça são parceiros de seus atos
de misericórdia (hb. hus, ter
piedade, compadecer-se, poupar, perdoar). Quando necessário, o Senhor usará de
misericórdia para com aqueles que se humilham em sua presença (Is 38.1-5).
Jonas ficou ressentido com a
misericórdia de Deus estendida aos ninivitas. Desejaria ele que os moradores de
Nínive fossem destruídos incondicionalmente? Desejaria ele o fim de um grande
inimigo de seu povo?
Nínive experimentou em seu
tempo o que Paulo escreveu aos efésios:
“Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que
nos amou, estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente
com Cristo (pela graça sois salvos) [...].” (Ef 2.4-5)
Assim como o profeta Jonas,
muitos precisam aprender com a “Pedagogia da Aboboreira” (4.6-11),
indispensável para se manter a coerência entre o discurso e a prática da
misericórdia, da bondade, da longanimidade, do perdão e do amor.
Bendito seja Deus por sua
soberania e misericórdia!
Abreu e Lima-PE, 07/11/2012
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